Hoje a saudade resolver doer um pouco

Não há sofrimento, ela só aperta o peito de leve, aquela sensação da ampulheta esvaziando, a percepção física de tantos domingos que não estou compartilhando contigo. 
A cada dia aprendo mais a ser feliz comigo mesmo, a me amar para poder amar o próximo, trabalho o amor e o desapego, entendo que ambos andam juntos nesse processo. E eu to feliz de estar cada dia mais sabendo que posso ser e sendo feliz sozinho.
Mas eu ainda preferia estar dividindo meus domingo de tédio contigo.
Minhas segundas de iniciar os movimentos da semana.
Te queria nas terças pra poder se abraçar e se sentir, mesmo que o dia tenha sido corrido e não deu pra conversar tanto.
Te desejo nas quartas para ir treinar comigo, ou para um beijo de despedida antes do trabalho.
Em todas as quintas, quando o final de semana já ta chegando e eu posso me sentir mais feliz pois terei tempo pra aproveitar a vida, e aproveitar contigo e com os meninos.
Te quero nas sextas quando a mente pode descansar, e lembrar que o coração segue sempre seguro com alguém que o cuida e o respeita.
Te amaria todos os sábados, quando é dia de arrumar o ambiente físico e se reorganizar, se conectar.
E te adoraria aos domingo, nos adoraria, nós 2, nós 4, nós 5. Nós.

Nós.

Mas sei que agora sou só nesse "nós".
Desde nosso último contato, quando algo virou e você disse que tava sentindo o desapego finalmente.
Não sei se isso é bom pra mim, mas desejo que tenha sido bom e libertador pra você.
Mesmo que isso signifique que você aprendeu sua lição e queira seguir em frente.

Eu sinto que, estou encarando um paredão de rocha, onde meu objetivo está no topo dele.
Mas não consigo subir essa pedreira, as pedras estão soltas, não tenho confiança pra me apoiar nela.
Me reste somente me afastar e procurar outro caminho que me leve até lá em cima.
Pode ser que eu perca o caminho de volta.
Pode ser que alguém chegue lá antes de mim.
Pode ser que as coisas mudem.
Só sei que nossa conexão nunca mudou, e que há alguma realidade alternativa em que estamos curados e vivendo felizes juntos. Eu às vezes a sinto e isso me regozija. 
Mas a única coisa que está no meu controle é me tornar aquela pessoa.
Não posso esperar que você ainda me queira, que você está tentando me reencontrar, não posso esperar que não vá conhecer outra pessoa e que podemos encerrar esse ciclo de vez.
Tudo que posso fazer é me trabalhar e esperar o melhor, mas me preparar para o pior.
Perder a conexão com essa realidade em que eu vivo com minha melhor amiga todos os dias da semana seria uma lástima imensurável.
Mas a vida segue.
Hoje só posso dizer que sei e que aceito que te amo e sempre vou te amar, você sempre será o amor da minha vida, minha chama gêmea, mas pode ser que nosso amor não seja pro resto da vida.

Aonde quer que formos, que encontremos a felicidade.

 A intensidade distorce o tempo
Não sei há quantos dias ou semanas já penso na carta
Cada dia muda um pouco o que eu quero dizer, ou como gostaria de falar.
E a cada dia eu percebo as coisas que estão além do meu controle.
Num processo desconfortável e frequentemente muito triste, consegui me manter sem cair, com muita dificuldade, agora ando, mais calmo e sem pressa e prezando o equilíbrio.

Ainda uso como meu marca página a foto que tiramos com os meninos, todo dia quando vou escrever por alguns instantes meu cérebro processa e reflete sobre aquele momento, esse sentimento estampado nessa imagem, um pequeno espaço de tempo onde conseguimos experimentar a felicidade genuína, me leva a refletir sobre o que ficou, sobre o que a saudade se nutre, sobre o que eu realmente não queria ter perdido, e todas as vezes eu agradeço por isso, lamento como as coisas se desenrolaram e busco perdoar o Pedro que está naquela foto, pois a cada dia que passa eu me reconheço menos naquela imagem, por um lado isso é bom, claro, a ideia era permitir que aquele Pedro morresse, e nesse processo desconfortável deixar nascer e continuar vivendo o Pedro que ainda quer fazer a vida valer. Esse Pedro de agora estava lá já, enterrado abaixo da insegurança em si mesmo e da falta de honestidade para consigo e com os outros.
Eu reconheço os erros daquele Pedro, e de mim mesmo, que me fizeram te perder. Mas sei também que isso só aconteceu por que eu já tinha me perdido há muito tempo atrás, e ao invés de tentar achar a minha carregando um peso morto eu precisava apreciar essa morte. Não gostaria de ter perdido isso entre nós, pois no meu coração ainda acredito nisso, mas aprecio sua coragem em ter feito algo. Tive que passar do ponto de "eu quero mudar" pra chegar num ponto de "eu não aguento mais isso" pra realmente tomar as atitudes necessárias, e me matar, sem terminar a minha história.
Ainda assim, oro por você e os meninos todos os dias, reconheço que em muitos outros momentos nós nos reencontramos como "estranhos" depois de anos sem se ver, mas as nossas crianças interiores sempre se reconheceram. Quem sabe o que pode acontecer quando elas puderem se reencontrar sem dois adultos idiotas e machucados atrapalhando, né?! Mas sei que não depende só de mim, não há como voltar ao que era, nós dois sabemos disso, a única forma é se permitir mudar e ser uma versão melhor e até mesmo diferente, e é o que eu to fazendo, por que eu sei que essa é a única chance da gente ser feliz, seja juntos ou não. 
A cada dia que passa eu reconheço e agradeço a segurança de saber que eu estou bem sozinho, mas que eu preferia estar fazendo tudo isso com a minha melhor amiga.
Como um bom estoico, tudo que possa fazer é trabalhar e esperar pelo melhor enquanto me preparo para o pior, trabalho o desapego e o amor juntos, pra sempre entender que são coisas separadas e mantenho o amor aqui.
Espero que saiba que sempre te amarei e sempre estarei torcendo pela felicidade de vocês e dos meninos, não importa o que aconteça.
Obrigado pela oportunidade de me ajudar a olhar para minhas feridas e por ter tido a paciência de me ver curá-las aos poucos, por me motivar a desmanchar os muros e retirar a armadura, por eu ter voltado a sentir o medo de ficar sozinho, e também por ter me deixado sozinho, por que foi ai que eu entendi que eu não preciso nunca mais estar sozinho.