quinta-feira, 8 de junho de 2017

Sobre datas comemorativas, água e o presente certo



Eu nunca fui bom com presentes, um dos motivos pelo qual comecei a ter uma certa repulsa a datas comemorativas, o constante lembrete artificial da sociedade de que temos algo para celebrar, presentes para dar, fazer alguém se sentir especial, quando isso na verdade não vem do coração, somos lembrados a presentear namorados, mães, pais, amigos, por que esquecemos da forma mais natural de faze-lo.
            Eu estou sentado em um quarto escuro, com um copo de vinho, um cigarro esperando pra queimar, ideias esperando pra acontecer, momentos vividos pra lembrar, e aquela angustia, ansiedade de algo pra acontecer, mas o mais importante que me acompanha nessa escuridão, são algumas pequenas fagulhas que ainda iluminam essa noite, e o desejo de te presentear, não com bens materiais, mas com meus sentimentos, minha gratidão, que mesmo efêmera, posso transcender e transformar em algo que dure...
            Eu me lembro de você na praia, onde nos conhecemos, lembro de você sentado no banco de concreto, com seus pés suspensos, aquele tênis branco com 3 listras cinzas ou pratas do lado, ridiculamente pequeno, e seus tremendos olhos azuis, mais um detalhe impossível de esquecer, era visto por que meu primo havia sofrido tanto por você, mas por algum motivo, não tive ódio ou desejo algum perante você, parecia que eu estava reencontrando uma velha amiga...
            Já perdi a conta de quanto tempo foi, e não me lembro da nossa ultima conversa antes de tudo acontecer, só sei que a vida é uma série de ironias, cômicas e melancólicas ao mesmo tempo, dolorosamente divertidas. Nós nos perdemos, em outros tempos, outros relacionamentos, outras vidas, histórias que ainda não tivemos a chance de dividir com uma garrafa de cerveja ou um cigarro. E quase 6 anos depois, graças as conveniências do mundo atual, me chegou uma pergunta a 700 km de distância, e a partir de então, de uma forma abrupta, porém natural, meus dias mudaram...
            Como diz o ditado, mar calmo não faz bom marinheiro, e há pessoas e acontecimentos que são como tempestades, não para nos destruir, mas para nos ensinar, nos fazer mais fortes, mas também precisamos do chão, de estabilidade, de dormir sem medo do próximo dia. Você veio como um porto seguro que avistei no horizonte depois de uma longa e cansativa tempestade, meus braços e minhas pernas já estavam desistindo quando eles tocaram o trapiche, sem idéia de onde estava.
            Desde então, tive motivos diários pra rir, mesmo quando minha vontade era chorar, sorrindo para a tela do celular como se estivesse apaixonado, o que não seria má idéia, eu sei que você nunca iria me machucar, mas sei também que você veio pra ficar, esse barco já balançou demais e precisava poder parar, mas mesmo sem ninguém entender, nós sabemos, e isso é o suficiente.
            Eu bebo meu vinho como se estivesse brindando a você, eu não te vejo mas a cada gole consigo escutar a sua risada, fazendo alguma piada de como essa vida não é fácil e como as pessoas são estranhas, estranhas por serem tão normais e previsíveis, por que hoje em dia ninguém espera que as pessoas sigam seus corações, só seus pensamentos, o que é o mais estranho de tudo, eu me sinto um estrangeiro aqui, e você recebeu toda essa minha loucura de uma forma tão rápida, tão dinâmica...eu sei que eu não sou fácil de lidar, e eu tenho outro segredo pra contar, de uns tempos para cá, comecei a catalogar as pessoas como fontes de água, me envolvi com pessoas que eram belas lagoas, com lindos pores-do-sol e uma bela vegetação ao redor, mas são rasas, sem vida, sem um peixe ou uma vegetação em seu interior. Já eu, claramente sou um poço, um poço escondida no meio de uma mata fechada que a maioria das pessoas tem medo de entrar, e quando olham para baixo sem conseguir ver o fundo, são tomadas por medo, nunca curiosidade, mas a verdade é, que eu tenho muita coisa aqui dentro, coisa que eu nem sei, tanta água límpida, tanta vida, que as vezes eu me perco na escuridão e na profundidade que tem aqui dentro.
            E você, me pergunta, e o que você é? Você é um lago, um belo lago, com sua própria nascente, o seu próprio nascer e por do sol, as pessoas te conhecem, muitas te usam por suas vistas ou por sua água boa e de fácil acesso, mas quem nada em você, pode sentir frio no começo, mas ao descobrir tudo que tem ai dentro, vai querer voltar sempre que possível. Eu senti frio no começo, mas hoje em dia sei que quando meus pés cansarem, eu posso tirar meu tênis, enfiar meus pés na sua água, e conversar com as oscilações da sua superfície, com o sol refletido em você, e com os animais que estarão ali, eu tenho um lugar pra ir, um porto seguro.
            Que essas palavras não se acabem, que nossas fontes não sequem, que haja sempre lágrimas pra chorar, e sempre novas pessoas pra amar, lagoas, rios, mares e quem sabe algum poço ou outro, um brinde a tudo isso, a melancolia cômica da vida, e as reencontros!

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