Depois de algum tempo senti sua falta
Senti falta da intimidade, da total entrega, da consciência da vulnerabilidade explícita e aceita que havia nos nossos corpos e almas nuas.Eram e ainda são almas sujas, mas esse encontro feito de dois fios desencapados que fazia existir uma verdade pura e intensa. E sinto falta disso. Mesmo sabendo que não existe mais.
Não sei se te reconheceria na rua, a cada dia que passa é mais difícil lembrar dos seus traços e gestos, e não há mais fotos guardadas para me fazer lembrar, pois eu não quero lembrar, não quero lembrar do que não existe mais.
Tento repetir os encantos mas a entrega se torna cada vez mais difícil visto a progressão da sensibilidade da nossa nudez perante a percepção externas dos nossos atributos, os bons e os ruins. A aceitação de que a pessoa não vai falhar ou fugir quando você não estiver tão forte ou tão bonito.
Fico perdido agora entre o que eu era e não quero mais ser e o que eu quero ser e ainda não posso, mas sei que agora eu sou o que eu queria há muito tempo, mas sinto como se estivesse somente acordado de um sonho e percebido que ainda estou dentro desse mesmo sonho. Como acordo agora? Ou isso é o que se vive? Mesmo sabendo que aqui eu não posso voar, a cada noite que me deito eu espero acordar ou nadar no ar feito água.
Sinto falta de algo que está no cerne, mas não existe mais.
Se me pedissem se eu quero saber de algo, pediria somente pra me falar se você está bem. Não teria o que fazer sabendo que você está mal. Nem o que fazer além de me regozijar sabendo que você está bem, é tudo que eu penso quando penso em você. Sei que não existe mais. Mas que sua felicidade seja real. Assim como busco que a minha seja.
Não te busco mais, mas hoje a saudade se instalou como uma velha conhecida que ainda acha que é bem-vinda, que ainda acha que existe alguma relação, quando só busca um local pra descansar. Eu te recebo, mas aqui não é o seu lugar. A saudade passa, a tristeza não entra pra dentro do portão. A vida continua.