terça-feira, 23 de junho de 2020

O inverno começou, e com ele uma contagem regressiva de 120 dia (a partir de hoje) até eu completar 28 outonos, 28 ciclos de secagem e renascimento.
Acho que me apeguei demais a algumas folhas e algumas flores das quais me orgulhei.
Mas não são mais minhas, as ofereci a terra, me ofereci à terra, mas de mim ela só quis minhas folhas e meu alcance, visto que estou um pouco mais perto do céu.
Agora meus galhos secos contrastam com o céu azul e com a imagem do que um dia foram.
Estou pronto pra recomeçar, seco, nu, leve e solto.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Eu ainda tateio o escuro procurando algo.
Confiando que meus sentidos estão além só da visão.
Mas eu ainda espero, procuro, anseio por um feixe de luz.
Em um quarto escuro em que cara sussurro, cada brisa, já significa algo.
Quando nos limitam de um lado, do outro tudo parece demais. Mas ainda assim, pra mim, não parece o suficiente.
Eu espero ver, sem nem saber o que.
No meu coração sombreado por um ego ansioso, tudo parece fazer sentido, sem nenhuma perspectiva.
E a falta de perspectiva tira o sentido de todo o resto.
É como construir uma casa sem vista alguma.
As paredes brancas, a reverberação dos quartos vazios são o suficiente? Dificilmente!
Mas ainda continuo aqui, tateando.
Com meus sentidos sensibilizados, e meus olhos tapados.
Eu continuo aqui...

quinta-feira, 18 de junho de 2020

A caneta vazia
sinonimo
do dia a dia
a caneta vazia
como tu sentia
no dia a dia
caneta vazia
sem o que escrever
o que relembrar
o que eternizar
o que esquecer
uma caneta vazia
numa imensidão vasta
de lembranças sem organização
Eu encaro a folha em branco na esperança de funcionar como o inverso de um buraco negro.
Sugar toda a minha escuridão, até que não haja nada além de luz na existência normal, fora dessa força gravitacional.
Força que provém do peso de todo meu arrependimento, arrependimento por não ter dito antes, e por ainda não saber o que dizer na maioria das situações, e ainda não saber o que dizer pra mim mesmo, tendo discernimento entre o que é real e o que é esperado.
O esperado é sempre um rascunho de um roteiro. Tanto muda, toma proporções que a gente nem imagina.
E eu vivo nesse rascunho.
Não tenho perspectiva o suficiente pra lapidar meus rabiscos antes de voltar a rabiscar.
Eu vivo de rabiscos, mas ninguém vive deles.
e eu vivo nessa idéia de rascunho, e me convenço, por que já me convenci, de que no final, o que importa é o que a gente acredita.
e talvez assim, se eu acredite ser uma boa pessoa, isso é o que importa, indiferente de eu ter passado a vida inteiro me convencendo de que todas as minhas ações são amor próprio ou ignorância do instinto de viver.
Não sei por que, principalmente, durante muitos períodos da minha vida, não queria estar vivendo.
Mas estou, e continuo, dia após dia, me convencendo que isso é o certo, que vale a pena....
Mas não sei até que ponto posso continuar me convencendo que sou bom nisso.